Permaculture Design Course

Permaculture Design Course
Madeira Island - Portugal
Permaculture is to live in harmony with nature providing for human needs and the needs of everything around us

Estaremos a destruir a identidade genética das nossas árvores?

Fica aqui uma passagem de uma agradável conversa com o Antero.

Boas a todos.
Não vou dar mais idéias acerca de como ou onde se podem adquirir arvores, mas antes lembrar algumas questões, que podem e devem ser debatidas aqui, aproveitando o calor do momento.
Por experiência em várias actividades, na área florestal, agrícola, ambiental etc, tenho tido e disponibilizado tempo e energias, a debater comigo mesmo, e com colegas, formadores, amantes da natureza etc, sobre a descêndencia genética que temos, como ser humano, implicado nas próprias espécies que pensamos serem naturais, ou não alteradas genéticamente pelo Homem.
Falamos tanto de G.M.O. que , mais uma vez, esquecemos, talvez pela forma condicionada que utilizamos para ver o mundo, que, ainda hoje e sempre, esta forma de manipulação tem sido feita, indescriminadamente por nós próprios, todos os dias....................
As técnicas de mutiplicação utilizadas, pelo ser humano, em relação às diferentes espécies que utilizamos para satisfazer os nossos interesses, são, de uma forma ridiculamente banalizada, uma sequência de manipulação genética.
É incrivel como tudo isso passa ao lado de toda a gente.
A própria técnica, seja de estacaria, enxertia, mergulhia, alporquia...bla bla bla... ou seja, todas as que não sejam de origem seminal, são todas elas formas bastantes agressivas até, de pura manipulação genética.
Isto passa completamente ao lado de todas as convenções, Leis, Governos, movimentos, etc...
Estas técnicas de multiplicação, consistem no desenvolvimento de exemplares exactamente com as mesmas características genéticas...
De apenas um indivíduo, que é escolhido exactamente pelas suas características genéticas (resistência a pragas e doenças, produção quantidade/qualidade, resistência à seca ou hidromorfismo...) retiram-se centenas, senão mesmo (ao longo dos anos) centenas de milhares de estacas, que mais não passam de clones.
É INCRÍVEL!!!
Vejo as pessoas criticarem o uso de hormonas, que são manipulação, lixo ecológico, deturpação ambiental, e mais tantos outros nomes que agora não em acorrem... ...e não se apercebem da realidade.
O uso da técnica, seja de multiplicação, ou, enfim, uma das quais eu queria falar, que é a Enxertia, consistem em obter, além do código genético, uma coisa que para nós, Humanos, temos procurado desde que existimos, e consideramos ser apenas uma possibilidade ao alcance de Deus, que é a de regeneração fisica, e vice versa...
Ao enxertarmos ou estacarmos, estamos a reproduzir também a idade da árvore/planta Mãe.
Só por exemplo/curiosidade, podemos, numa vara/toiça (ou o que resta da raíz, quando cortamos o tronco), e atravéz de uma característica de muitas árvores, que eu adoro e tenho como regra para a vida, enxertar um indivíduo mais novo, vigoroso e até com características mais elaboradas, que mais não visam do que a sua uilização em prol de nós, Seres Humanos, mas que de facto fazem regeneração ou envelhecimento destes.
Esta característica denomina-se nada mais nem menos que resiliência
A idéia de enxertarmos, é introduzirmos, a certa altura da árvorezinha/ toiça, um membro clonado, que visa a rápida produção de fruto, e também a manifestação das características genotípicas da árvore que lhe deu origem.
Por exemplo, no Pinheiro manso, enxerta-se porque este só produz fruto (em quantidade e qualidade) aos 15-20 anos, e com a técnica da enxertia, que é feita atravéz de pura, não manipulação, mas selecção genética da árvore que dá origem aos garfos/enxertos. obter-se assim as ditas pinhas aos 8 anos de vida.
A importância deste assunto é, no mínimo, avassaladora.
De um único exemplar, todos os anos são retirados cerca de 50 a 100 "clones"...
Interessa, acima de tudo referir que cada árvore, em cada geração, aprende, de forma genética, a adaptar-se às condições/ estação da região em que se desenvolveram.
Esta lição, feita de forma harmoniosa com os elementos naturais, pura e simplesmente não é "legada" para os seus descendentes, simplesmente porque estes são cópias geneticamente fiéis do mesmo.
O legado que fica, depende da forma como nós, seres humanos, temos em consideração para nós mesmos, nunca para com o meio natural.
Vou dar ainda mais um exemplo, este bem mais esclarecedor sobre o impacto da acção humana sobre a natureza. É o caso do nosso famoso Pinheiro Bravo.
Está provado que a qualidade genética deste, não é nem sequer parecida à que existia há muitos, muitos anos, numa época em que este foi amplamente plantado/disseminado.
Estudos indicaram que a causa para esta deteorização da qualidade genética no país estava directamente associada às técnicas de abate, que tinham em conta abater os exemplares mais bonitos, e fortes, saudáveis, deixando para os mais fracos, defeituosos e até mais sensíveis a pragas e doenças, a responsabilidade da sucessão genética.
Ao longo de gerações, estes efeitos fizeram-se sentir...
As espécies fruteiras, ou melhor, a área da fruticultura, pode-se dizer que é um circo de aberrações. Em que esta separação e manipulação, tem sido mais utilizada ao longo da nossa história, mas nunca antes como nos dias de hoje.
Uma árvore enxertada, frutifica talvez até ao 2º, 3º ou 5ºano, mas a que preço?
A história genética das árvores, em geral, fornece as respostas para muitos dos problemas que lhe estão associados.
E quando falamos ou ouvimos falar que nunca antes existiram tantas pragas e doenças associadas a estas, mais não podemos que observar a sequência genética que nós, inconsequentemente, fomos desenvolvendo.
Estamos a falar que. com clones, o mesmo individuo, quando encontra uma doença, que por puro desenvolvimento genético natural, encontrou um meio, capacidade, ou característica que vai permitir atacar o sistema do hospedeiro, este, estará, não apenas ele em risco, mas também todos os clones que dele foram produzidos, porque no fundo são o mesmo, com as mesmos defeitos e qualidades.
é por estas coisas que hoje em dia, a fruticultura enfrenta muitos problemas.
Existem no mercado, milhões, senão biliões de árvores que apenas tem uns poucos milhares de recursos genéticos.
no eucalipto, castanheiro, e mesmo pinheiro bravo ou manso, já para não falar de todas as fruteiras, em que muito acontece, de diferentes formas, a partir de apenas uma folha, criam-se milhões de indivíduos.
E ISTO ACONTECE EM PORTUGAL E NO RESTO DO MUNDO!!! TODOS OS DIAS!!!
Alguém parou para pensar nisso?
GMO????
OGM???
Monsanto????
Eles apenas aceleram mais o que nós, aos poucos vamos inocentemente fazendo... estacaria é OGM!!!!
ENXERTIA É OGM!!!!!
Quando é que neste mundo vamos parar um bocado para ver o que está à nossa volta?
A única forma de multiplicar, de forma responsável uma árvore ou planta, será por via seminal, ou semente, e se tal não for possível, é porque a espécie nem devia cá estar desde o início!!!!
já agora nunca jamais escolher as sementes de apenas um indivíduo, mas variar o máximo possível, entre os melhores... talvez...
Por favor, parem e comecem a, finalmente, também incluir estas questões nos debates ao serão, enquanto bebem esse cházinho que deve ser delicioso...

PS!!!
A época da lande já começou....
as melhores bolotas encontram se nesta altura do ano... ab

...

Olá Antero e bem vindo a esta discussão.

Concordo práticamente com todos os pontos que apontaste.

Ainda que, e posso partilhar contigo aquela que para mim foi a solução para esse dilema que apontas e que a muita gente faz pensar.

Na minha opinião aquilo que faz a força genética de um individuo alem da potencia que já vem incluida no seu adn desde o seu nascimento é o contexto em que é criado, as caracteristicas do meio envolvente, num contexto de permacultura o objectivo é a biodiversidade porque isso é que vai criar as condições para o melhor desenvolvimento dos ditos individuos daí que a riqueza da diversidade ao contrário do fundamentalismo monocultural ser uma das grandes máximas deste movimento.

Sabemos que as variedades mais ancestrais são as melhores pela sua adaptatibilidade e se forem germinadas de semente ainda melhor mas como sabes num contexto onde se quer fazer uma rápida recuperação de solos degradados por vezes tem que se acelerar o processo e por vezes não se conseguem reunir as condições ideais e sustentáveis para que isso seja possivel, considero no futuro a praticar esse sistema mais ideal que apontas mas neste momento não consigo reunir as condições para que isso aconteça, talvez me possas dar umas dicas em como acelerar esse processo, mas neste momento e ifelizmente tenho que cair no velho ditado do mal menor, é sempre melhor ter lá as plantas que não ter nada, não concordas, até arriscava a dizer que, e sei que isto é muito discutivel e polémico que por vezes até mais vale ter uma floresta de acácias do que um solo exposto à erosão, sim sei que é muito longe do ideal mas lá está voltamos à velha história do mal menor.

Certamente que tu próprio quando vais recolher sementes das tuas plantas procuras as que deram os melhores frutos e que tiveram um maior vigor, esse processo dá pelo nome de seleção genética e é feito há 10000 anos desde que foi inventada a agricultura, e cada vez que se faz isso pode-se estar a negligenciar aspectos genéticos da planta de imensa importância à sua adaptação ao meio, como é fácil de entender que se os frutos são grandes e bons para ti, também vão ser bons para as chamadas pragas (não acredito muito nesta coisa das pragas porque está provado que 98% das chamadas pragas são benéficas em determinado momento e não tenho problema nenhum em as alimentar, QB claro, e QB é uma das coisas mais importantes naquilo que vejo como a minha filosofia de vida.

Afinal de contas fazemos tantas coisas que estão longe do ideal da sustentabilidade, mas lá está cada dia é uma batalha e a passo e passo vamos nos aproximando dos nossos sonhos.

O primeiro principio é cuidar da terra e para que isso aconteça é preciso matéria orgânica e as árvores são a maior fonte deste material e quanto mais velhas mais produzem.

Não me preocupam muito as pragas, preocupa-me mais a falta de biodiversidade.

...e sim a potencia genética também me preocupa, e bastante, daí já estar a germinar muitas árvores de semente, mas algumas tenho que esperar dez anos para ficarem do meu tamanho e começarem a produzir, e o tempo urge...mas tudo a seu tempo.

Gostei muito do teu comentário e gostava de saber se o posso publicar no meu blog para que mais pessoas tenham consciencia desta realidade que apontas.

...

Olá mais uma vez... é claro que podes pôr a questão onde necessitares, uma vez que é uma questão que, apesar de pouco se poder fazer, carece no entanto de alguma atenção, pelo menos do meu ponto de vista.

Quero tb dizer que concordo absolutamente com as palavras que proferiste.
Apenas pús a questão, porque a maioria das pessoas não está a par destes pormenores, e apesar de pouco haver a fazer, cabe-nos sempre a procura de novas soluções, se é que estas existem.
Infelizmente,não existe muita regulamentação para este tipo de actividade, o meu ponto de vista, é que se deveria desenvolver mais esta questão, do ponto de vista científico, por forma a preservar a diversidade genética das espécies.
A regulamentação em vigor, faz exactamente o contrário.
Devia pelo menos existir algumas regras em relação à produção de material vegetativo de reprodução, talvez passando pela variedade obrigatória na recolha destes materiais, e não o que o governo e indústria promove, ou seja, practicamente o contrário.
Só para exemplificar, as "árvores plus" ou seja, material vegetativo de topo, são reproduzidas muitas vezes a partirda mesma fonte genética, isto tem sido feito práticamente em todas as espécies florestais, ornamentais e fruteiras. O cúmulo é estes trabalhos científicos serem na sua base OGM's, ou seja, do meu ponto de vista são modificados através da selecção, e serem disseminadas abertamente pelo mundo fora, e ainda serem suportados por fundos públicos.
Não há, de facto, muito a fazer, apenas aconselho que, ao recolherem material vegetativo, tenham em atenção, variar o maximo na fonte desse material, ou seja, se temos 20 oliveiras, e precisarmos de 40 estacas, retirar duas de cada oliveira, e assim ir variando sempre que necessário....
essa regra básica deverá ser utilizada em todas as técnicas de reprodução vegetativa (enxertias, estacarias, mergulhias, alporquias etc...) e ter sempre em conta a variedade, e não a quantidade ou qualidade apenas da sua produção.
mas em todo o caso obrigado pela resposta e atenção... abraço


Obrigado pela lembrança Antero deste tema tantas vezes esquecido.

Para quem quer comprar árvores em Portugal ficam aqui alguns contactos, mas o melhor mesmo é sempre de semente...

http://www.vcastromil.pt/
http://www.arborlusitania.com/
http://pt.sireh.com/v/2/vfa-viveiro_florestal_do_algarve_lda_marim/

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